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Marina Lima fala de novo disco e confessa: quer casar

jun 08, 2011 DJ Antonio Maria Famosos, Música, Notícias 0


Pedro Alexandre Sanches, repórter especial iG Cultura

Em entrevista reveladora, cantora comenta dificuldade de ser compositora no Brasil, o álbum “Clímax” e os novos tempos

Foto: Beto Lima

Preparem-se os e as pretendentes: Marina Lima quer se casar. No momento em que lança um álbum de músicas inéditas (o primeiro em cinco anos) chamado “Clímax”, a compositora e cantora carioca fala com bom humor da recente aprovação da união civil entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. “Não sei com quem eu vou casar, mas seja como for, com mulher ou com homem, eu terei direitos iguais”, afirma, no alto do edifício Itália, em São Paulo, olhando a paisagem da cidade que elegeu para morar há um ano. “Acho que eu sempre quis casar”, ri.

Mais que sobre sexo, Marina mostra apetite para falar de diferenças de gênero, e dos percalços que acompanhavam uma mulher que resolvesse, três décadas atrás, se impor como compositora. “Ser cantora era de bom tom, não ameaçava ninguém”, diz. “Como compositora, você tinha que ficar brigando pra provar que não era uma salafrária.”

Compositora desde os 17 anos, ela fala sobre a interrupção da parceria com o irmão Antonio Cícero, com quem eternizou hinos pop dos anos 80 como “Charme do Mundo” (1981), “Fullgás” (1984), “Difícil” (1985), “Pra Começar” (1986) e “Virgem” (1987), e sobre o fato de não só permanecer compositora como estar atualmente compondo em parceria com outras mulheres. Em “Clímax”, além de cantar ao lado de Arnaldo Antunes, Samuel Rosa (do Skank) e Vanessa da Mata, ela apresenta parcerias com Karina Buhr e Adriana Calcanhotto – nesse último caso, uma canção de sabor anti-romântico, chamada “Não Me Venha Mais com o Amor” (escute no final da matéria).

Em conversa com o iG, Marina fala sobre o amor e a ausência dele. Volta ao passado de relativa inadaptação aos rótulos de estrela pop e símbolo sexual e relata como se sentia limitada na relação com o público, a não ser de cima do palco ou pela mediação dos jornalistas. E chega ao presente, falando sobre o vazamento de “Clímax” na internet e sobre sua facilidade de entrosamento em novos meios de comunicação, com o Twitter, no qual se comunica direta e livremente com jornalistas e fãs. “Quando chego em casa de madrugada em casa, vou para o Twitter, não para a televisão”, comemora. Segue abaixo a entrevista, que, por sinal, foi combinada via Twitter.

iG: Foi você quem liberou o disco para download na internet?
Marina Lima: Não, vazou.

iG: Então alguém se fazendo passar por você fez e avisou no Twitter.
Marina Lima: Pois é, a pessoa criou. Meu empresário estava pensando em fazer, mas a gente não chegou a fazer. Alguém fez antes. Estou sem gravadora há muito tempo, não vivo mais de direito autoral de disco, nem é isso. O que acho chato é que é uma invasão. Eu queria que tivesse saído com a capa, o trabalho completo. Rodrigo [Vinhas, seu empresário] foi o cara que me ajudou a criar este momento, é também empresário do Arnaldo Antunes. Eu estava cheia de música, vamos fazer. É um cara jovem de São Paulo, tem 26 anos, não pegou época das gravadoras, não está preocupado, nem sabe como é. É uma dinâmica muito mais atual, é mais fácil trabalhar. É o que nós temos hoje, não o que já teve no passado.

iG: O que você sente hoje por um disco seu é igual ao que sentia antes? Tudo que envolve esse processo mudou completamente.
Marina Lima: Pra mim o importante é o que vai ficar depois do meu tempo, depois que eu passar por aqui. Vai ficar a minha obra. É muito mais do que fazer um disco por ano, sou ambiciosa artisticamente. Não sei se eu seria mainstream hoje, mesmo com as gravadoras. Votei no Lula, votei na Dilma, acho que por um lado o país ficou mais democrático, com menos diferenças, precisava disso. Mas culturalmente tem um lado que empobreceu muito também. Tem a coisa de vender rapidamente, nem tudo que toca eu gosto tanto. Minha música é diferente, não representa uma periferia, é a minha voz. E eu mudei, principalmente porque as coisas são cada vez mais diferentes. Não sou uma pessoa muito saudosista, nunca fui. Gosto do momento, gosto da vida, tenho sede pela vida. Mesmo tendo 55 anos, eu tenho muita curiosidade. Isso não mudou, continua igual. Mas todas as maneiras de comunicação, sim, e eu me sinto conectada com o momento de agora. Tenho muita ligação com internet, agora tenho Twitter, adoro. Quando chego de madrugada em casa, vou entrar no Twitter, não vou na televisão. É mais interativo, sou eu menos passiva, participando, falando com você, com não sei quem, falando sozinha.

iG: Muitos artistas aparentam medo desse contato direto, embora virtual.
Marina Lima: Eu converso com poucos artistas, como Fafá de Belém, no Twitter. Converso muito com jornalistas, que atuam muito no Twitter. É um mundo tão novo (ri), “que mundo tão novo”, como eu disse anos atrás em “Charme do Mundo”, deve ser da idade (ri). Todos os códigos mudaram. Às vezes eu bloqueio gente, respondo. Nunca tive medo de me relacionar, sempre adorei dar entrevista. Eu tinha um pouco de receio, porque às vezes as pessoas deturpam, mas agora, com o Twitter, estou presente, posso falar eu mesma também.

iG: Você não parece ter receio do contato direto, já a encontrei no asfalto, em parada gay.
Marina Lima: Não tenho mesmo, eu gosto. Quando fiquei ausente por um tempo, a melhor coisa que tive foi poder voltar a ter contato com as molas que me impulsionam, com as pessoas. Não gosto dessa coisa isolada, só gosto de me isolar pra criar. Não sou uma pessoa que sai todo dia, mas gosto muito de encontrar amigos, jantar. E agora eu gosto do Twitter. Tentei o Facebook e desisti, começaram a querer criar fazendinha comigo (risos). Fechei. Pra mim, o Twitter é libertador.

iG: Nos tempos de estrela pop, você estava mais isolada do que hoje?
Marina Lima: Muito, e não era uma coisa confortável. Tanto que abdiquei, eu não quis. Criei dificuldades até pra não ser obrigada a seguir aquilo. Não gosto, fui percebendo que não era a minha praia.

iG: Os problemas com a voz talvez tenham colaborado para isso?
Marina Lima: Tudo tinha muito a ver, mas não foi só com a voz. Foi com o que resulta na voz, o que reflete na voz. A voz é minha tradução, é como mostro minhas canções. Foi uma grande dúvida: onde é que isso vai dar? Por que eu estou aqui mesmo, oi? Acho que criei dificuldades pra mim mesma, pra poder me dar o tempo de dominar de novo o que eu queria e sair fora do que não me interessava. Minha carreira foi uma coisa ascendente, né? Gravei “Uma Noite e Meia”, uma música do meu baixista na época, Renato Rocketh, uma música que toca no inconsciente coletivo. Era uma música como hoje seria as músicas do axé, da Banda Calypso… Era uma coisa incontrolável e forte que estava ali, ninguém ia segurar o rock, a batida dos anos 80 no Brasil. Mas eu não queria só fazer isso. Nunca tive dez assessores, nunca gostei, sempre fiquei achando que eu podia estar perdendo alguma coisa, criando um monstro. Nunca fiquei bem nisso.

iG: Voltando para o momento de agora, você usou o termo “ambiciosa”. “Clímax” é um nome ambicioso, não?
Marina Lima: É. Meu nome é Marina Correia Lima, assino M.C. Lima em cheque. Eu já tinha “clima”, e sempre gostei de xis, porque representa um pouco esportes extremos, perigosos, como surfe. Peguei muito surfe, sempre fui fascinada por onda grande, aquelas ondas de cinco metros no Havaí.

iG: Já entrou em uma onda grande?
Marina Lima: Já peguei muita, quase morri afogada algumas vezes. Por isso parei de pegar surfe, eu era meio atirada, muito destemida no mar. Pegava onda na minha época mais importante, na adolescência, entre 12 e 16 anos, eu e meus irmãos Cícero e Beto.

iG: Até aí não é tão ambicioso…
Marina Lima: É ambicioso, sim, esse nome é ambicioso. As pessoas veem uma conotação sexual, mas, quando você olha no dicionário, clímax quer dizer o ápice de um enredo, de uma peça, uma vida. Fiz 55 anos, estou no auge da minha vida, se eu presumir que vou viver 100… Talvez eu viva 90, 100…

iG: Você pretende?
Marina Lima: Pretendo. Saúde eu tenho, a não ser que eu fique doente. Posso me imaginar vivendo até os 90 e poucos. Então estou no ápice de uma coisa, foi por isso que botei. Vim pra São Paulo, de certa maneira tem um sabor de recomeço, mas não uma coisa cíclica. É meio como a segunda metade da vida. Queria mudar pra cá há muitos anos, desde 1998. Tom Jobim foi mais ambicioso, foi pra Nova York, mas eu quis vir pra São Paulo. São Paulo é um lugar que me dá muita oportunidade de trabalho, uma cidade muito grande, a maior cidade do Brasil, com muitas pessoas que vêm de fora. A mim, particularmente, me dá a sensação de um lugar onde posso também me sentir estrangeira. São Paulo me proporciona isso, e ao mesmo tempo é a minha língua, é o Brasil. Então abre um ciclo novo pra mim.

iG: Dos porta-vozes da sua geração, Renato Russo e Cazuza morreram, e você, Lobão e Arnaldo Antunes estão em São Paulo.
Marina Lima: Arnaldo é paulista mesmo, né? E Lobão eu não vejo desde aquela época. Não estive com ele em São Paulo ainda, a gente nunca se encontrou aqui. O último contato que tive foi com o livro dele, que li porque uma amiga jornalista me ligou perguntando se eu já tinha pensado em quem faria meu papel no filme. Falei: “Ãhn?”. Ela me contou que Lobão vendeu os direitos, e tem eu lá no livro, alguém vai fazer o papel. Aí fui comprar pra ler. Nem achei que tenha eu tanto assim. Quando ele estava tentando criar uma carreira solo me encontrou, eu dei força pra ele cantar, participei do primeiro disco. Tem momentos importantes, mas não uma coisa constante. Depois a gente se perdeu de vista, nunca mais toquei com ele, nunca mais estive com ele.

iG: É um clichê, mas São Paulo deixa seu trabalho menos ensolarado?
Marina Lima: É um clichê. É o que rege minha alma, são estados de espírito meus. Em São Paulo a vista é pra dentro (ri). Pra mim não deixa de ter sol. Aqui tenho menos dependência da vista externa, do tempo. É mais uma vista pra sua própria trajetória, pros seus inventos.

iG: Algumas faixas soam tristes, talvez mais pela melodia do que pelo que estão dizendo. “De Todas Que Vivi”, por exemplo?
Marina Lima: Essa não acho. É uma espécie de canção, uma influência minha de ter ouvido muita música brasileira, muita harmonização, Tom Jobim, Edu Lobo, Chico Buarque, Gilberto Gil. Essa música tem uma ambição, como se fosse harmonicamente uma grande canção brasileira minha. Não acho triste, talvez “Desencantados” pareça mais… meio sem saída. Mas é feito de propósito, pra traduzir um estado de espírito assim. Hoje em dia um disco não reflete só um momento. Ele vem sendo feito há três, quatro anos. Passou por vários momentos, é rico nesse sentido. Não foi o último verão.

iG: A música com Samuel Rosa, “Pra Sempre”, é o contrário.
Marina Lima: Porque a música é do Samuel, a letra é que é minha. Adoro “Garota Nacional”, pra mim aquilo foi um marco, fiquei com inveja, parece uma coisa minha com Cícero. Samuel é uma pessoa de uma competência impressionante, admirável. Ele é muito bom compositor. Toca muito bem, canta muito bem, é muito inteligente. O Dalto, de certa maneira, foi precursor da música pop no Brasil, com “Muito Estranho” (1982), e eu e Lulu Santos viemos logo em seguida. E a gente abriu pra toda uma galera que veio depois. Então entendo muito o que esse pessoal faz. Quando comecei eu estava buscando isso. Agora eu busco outros caminhos, mas entendo eles. É radiofônico, eles querem tocar no rádio. Entendo muito o caminho do Samuel, porque eu abri um pouco isso.

iG: No disco você olha para as gerações seguintes por um lado, e por outro cita os “Afro-Sambas” de Baden Powell. A bossa nova é uma referência importante, não?
Marina Lima: É, muito, porque aprendi a tocar violão com uma chilena quando morava nos Estados Unidos, e comecei a tirar as músicas que meus pais ouviam, Baden Powell, Elizeth Cardoso, Elis Regina. A bossa nova estourou nos Estados Unidos quando eu morava lá.

iG: Você é uma artista que gosta de jornalistas, não?
Marina Lima:
Eu gosto, né? Eu acho graça, adoro. Tem muito essa coisa de artista e jornalista serem inimigos, é um saco. Vocês escrevem umas coisas que não acredito, resolvem tudo ali. É bacana, é o que a gente tenta também, nas músicas. Quando comecei as coisas não eram como são agora. Eram chatas, sabe? Tinha pouca mulher, quase ninguém tocava, quase ninguém compunha. Tinha Dolores Duran, que morreu, tinha Rita Lee e tinha eu. Então as pessoas, os homens, sempre desconfiavam que tinha algum truque por trás, sabe? Era um saco. Músicos, jornalistas, editores de revistas. A máquina toda, o esquema todo. Todo mundo já saía com a pauta pronta e encaixava você naquilo.Tinha um machismo por trás, quem não estava acostumado desconfiava, e também não estava a fim de dar trela, porque é muito poder para a mulher.

iG: Não se toca muito nisso, mas é espantoso que só existissem você e Rita Lee de mulheres compositoras em atividade.
Marina Lima:
É um saco. Era discussão, briga. Numa entrevista, quando gravei “Uma Noite e Meia”, o cara só faltou me chamar de puta. Você tinha que ficar brigando pra provar que não era uma salafrária. Cantora era de bom tom, não ameaçava ninguém. As cantoras só cantam, elas não podem falar nada, mas uma cantora que também compunha era mostrar poder demais. E eu fui criada assim, sempre quis dizer o que eu pensava.

iG: Você pensava isso na época? Era solitária como compositora?
Marina Lima:
Pensava. Era muito solitária.

iG: Você dizer que era chato significa que hoje é mais legal?
Marina Lima:
É muito mais legal, eu acho. Os homens estão muito mais generosos também. Não adianta colocar uma rolha nas coisas, elas estouram. As mulheres conquistaram e ganharam espaço. Dilma é muito importante pra isso, é uma imagem maravilhosa sobre o Brasil, também para as mulheres pobres saberem que uma mulher guerrilheira chegou lá, na presidência, como Lula. Estive com Seu Jorge, ele quer ser político, quer ser presidente ou ministro do Planejamento, adora isso. Ele pode, por que não pode? O Lula não pôde? Hoje em dia a porteira abriu, as pessoas foram conquistando espaço em todas as áreas.

iG: Nesse contexto, você não está compondo mais com seu irmão. Por quê?
Marina Lima:
Isso não é nada, é por causa da vida mesmo. Ele começou através da música, comigo, e pôde até através da música conquistar um grande espaço, ser conhecido e enveredar pelo caminho que é o mais interessante pra ele, a poesia e a filosofia. A gente está distante, e perdemos muitas pessoas também. Nossa mãe morreu ano passado, nosso irmão Beto morreu há quatro anos. A família passou por muita coisa, muito mais importante, pra nós, que o fato de a gente compor juntos. A gente não se encontrava pra compor, mas pra resolver questões práticas de hospital, saúde. Guardamos o que fizemos juntos, é uma sensação que não vamos perder, mas estamos em outro momento. Tudo começou ali, entre nós, eu não sabia bem o que eu ia fazer, achava que eu ia ser maestro.

iG: MaestrO?
Marina Lima:
Enfim, maestrina, é como falar músico ou poeta, presidenta ou presidente…

iG: Há veículos de comunicação que não querem falar presidentA.
Marina Lima:
Isso é o de menos, ela já está lá, não tem mais jeito. O tempo vai mudar isso. Eu comecei tocando um instrumento e acabei musicando um soneto, um poema do Cícero. Nossa união se fez a partir dessa parceria, e eu acabei assinando um contrato com gravadora aos 17 anos.

iG: O que você sente quando se vê na capa do seu primeiro disco, em 1979?
Marina Lima:
É muito diferente. Eu entendo tudo. O diretor de arte era o Carlos Prieto, ele é o cara que inventou Zezé Motta em “Xica da Silva” (1976), aquela maquiagem do filme. Ele exagerou a Zezé, puxou pra mim também, queria marcar território. “Você tem que mostrar aquela malha, o cabelo rebelde, vou te maquiar.” Achava que eu tinha o corpo bonito. Eu era fã da Gal, vim depois dela, e ela tinha o cabelo assim, então vamos embora.

iG: Seu cabelo era daquele jeito ou não?
Marina Lima:
Meu cabelo é crespo. Há muitos anos não, acho que nem é mais, porque hoje em dia o cabelo é o que você quer.

iG: Você é afrodescendente?
Marina Lima:
Não sou, não, tenho descendência nordestina, não africana. Que eu saiba, não, mas todo brasileiro tem, né? Meu pai era piauiense, minha mãe também, deve ter alguma coisa, não sei.

iG: Você chegou a ser vendida como símbolo sexual?
Marina Lima:
Depois daquela capa, né? (risos) Só que eu não era, por isso tive tanto embate no começo. Não era, não queria ser.

iG: Botar uma composição de Dolores Duran como primeira música do primeiro disco era proposital?
Marina Lima:
Isso era, foi importantíssimo, foi ideia do [então presidente da gravadora Warner] André Midani,. Eu era compositora, por que não gravar a compositora Dolores Duran? Achei a ideia genial, e abri o disco com ela. Mas tinha o machismo da época, pronto, não podemos confiar nessa menina, como é que ela faz uma capa assim? Hoje em dia isso não quer dizer nada.

iG: Em “A Parte Que Me Cabe”, você pergunta “em que medida envelheceremos bem/ olhando os outros sem doçura e com desdém”. Faço a mesma pergunta a você.
Marina Lima:
Não envelheceremos bem assim. Não podemos ser assim. A pior coisa é a arrogância, tenho horror a essa superioridade que infla o ego das pessoas. Não alimento isso em mim e não quero fazer isso com ninguém. Quem somos nós, policiais da moral alheia? Não sou ligada em moral, sou ligada em ética.

iG: Você toca aí num assunto bem pouco comum na música pop: como envelhecer sem rancor. Como você vive esse desafio?
Marina Lima:
Não falo só de mim, é uma pergunta no ar. Que direito os outros, eu incluída, têm de ficar julgando a vida das pessoas? Cada um é único no mundo, nisso todo mundo é igual: as pessoas são diferentes. Tem pessoas mais velhas que ficam olhando pras próprias pessoas mais velhas assim: “Eu, pelo menos, sou casada…”. Posso vir a casar até, mas não sou casada. Muita gente mais velha já olhou pra minha vida com desdém, como se eu fosse uma aventureira. Não gosto dessa crítica de pessoas mais velhas sobre mim, ou que eu poderia ter com pessoas mais novas.

iG: Você, Marina, 55 anos, consegue compor com Karina Buhr, bem mais jovem, e olhar para ela sem desdém?
Marina Lima:
Consigo. E acho que ela também me olhou de uma maneira muito bacana, sem nenhum ar de superioridade, que a gente quando é mais jovem às vezes também têm com pessoas mais velhas.

iG: Envelhecer no pop é difícil?
Marina Lima:
É, mas talvez sejam as razões por que não me enquadro muito bem, há tempos já fui pra outro lugar. Eu não gosto de estar em lugares onde eu possa ser espremida, sem ar. Se aquele modelo vai começar a ficar apertado pra mim, eu não quero, abro mão. Se o pop, que eu até ajudei a criar, começou a ficar desconfortável, se começou a exigir que eu só gravasse “Uma Noite e Meia”, não me interessa. A questão pra mim é me sentir linkada às pessoas da minha época, que é a minha época. Tem pessoas que falam, quando estão vivas: “No meu tempo…”. Está maluco, você morreu por acaso? Cada idade requer um esforço. Hoje em dia, quando olha pra trás, você não vê como sabia muito pouco aos 20? Mas você não vai falar: “Eu era um babaca”. Não era um babaca, já era um pouco o que é hoje, você é tudo hoje por causa daquilo. Mas como a gente vê que sabia pouco, né?

iG: Em que medida é brincadeira e em que medida é sério esse papo de “Não Me Venha Mais com o Amor”?
Marina Lima:
Eu tinha feito a música, o nome que eu dava era “Sufocado”. Compus um rascunho do quadro que eu queria pintar, o esboço estava ficando pronto. E eu queria compor com a Adriana Calcanhotto, tinha interesse em ver como seria. Liguei pra ela, ela foi na minha casa, mostrei essa música. Ela perguntou: “O que você queria?”. Falei: “Estou aberta, queria fazer uma música forte, nós duas”. Dois dias depois, ela me ligou: “Tive uma ideia, não me venha mais com o amor. A pessoa pode ter prazer com você, pode ser uma coisa fortíssima, mas isso não é amor, não me venha mais com o amor”. Aí a gente se encontrou e começou a desenvolver a letra, fizemos juntas. Nos encontramos umas três vezes, foi muito bacana. Compus com Adriana da forma como componho com Cícero, só que ela não é minha irmã (ri).

iG: E não é homem. Mais raro que uma compositora mulher são duas compositoras juntas.
Marina Lima:
Tinha aquela parte, “nem vem, que dessa você não se safa”. Ela disse: “Vamos usar safa por causa de Safo”, concordei. Eu estava fazendo coisa à beça, compondo muita letra, pensei: se eu fizer um disco todo compondo sozinha, vão implicar (ri).

iG: O artista prevê essas coisas, ou tenta prever?
Marina Lima:
Eu passei por isso tantas vezes quando comecei minha carreira. Queria me meter nos arranjos, ficavam putos. Compunha, tocava guitarra, as pessoas não gostavam. Os produtores não gostavam, principalmente. Mas eu estava pensando nos jornalistas já (risos), “ela vai achar que está podendo demais”. Aí pensei: vou chamar a Adriana pra compor comigo, vai ser bacana, as pessoas gostam, ela compõe bem, eu tenho vontade e vai ser bacana.

iG: “Não me venha mais com o amor”, é o seu caso, aos 55 anos?
Marina Lima:
Não, eu não gosto de falsas promessas (ri). Amor é outra coisa, não é qualquer transa que você tem.

iG: Não é algo na linha da psicóloga Regina Navarro Lins, que diz que não é necessário ou obrigatório viver amando o tempo todo?
Marina Lima:
Conheço ela, acho ótima. Agora estão os homens vivendo esse dilema. As mulheres antigamente tinham esse problema, transou, pronto, os homens ficavam de saco cheio. Agora vejo que é o contrário: os homens estão com medo de transar e ser também descartados. As mulheres agora aprenderam isso. Meu professor de ginástica, de 28 anos, disse: “Eu sou muito sensível, depois eu me machuco (ri)”. Tudo mudou, a coisa virou. Antigamente, pra conseguir o que queriam, prometiam amor e tal. Então não venha com falsas promessas, vamos esperar chegar o amor. Claro que o amor é importante, mas não é a torto e a direito, alto lá.

iG: A sexualidade não é algo que diminui com o passar do tempo?
Marina Lima:
Pra mim, pelo menos, muito importante é a qualidade (ri). A quantidade não é a questão. Pra mim é isso que mudou muito. Mas acho que os homens estão mais generosos agora. Tudo está diferente, os direitos foram aceitos e reconhecidos pelo Supremo Tribunal Federal, e está todo mundo apavorado. Meus amigos estão todos a-pa-vo-ra-dos (risos). Me pediram em casamento! “Pelo amor de Deus, casa comigo, você é a única pessoa que confio, eu sei que você não vai querer dar um golpe em mim”, eu morri de rir (risos). Antigamente as relações gays, entre pessoas do mesmo sexo, não tinham casamento. As pessoas estavam namorando, nada era muito sério, parecia que ninguém nunca casava, a não ser quando morava junto. Não podia casar, não tinha plano de saúde, não tinha um monte de coisa que o casamento significa.

iG: Mas aí o que leva seu amigo a querer casar com você? Ele é gay?
Marina Lima:
Não, ele é – como se diz? – entendido, como se dizia antigamente. Hoje em dia se fala bissexual, ele é bi. Ele falou: “Me ajuda, o que eu vou fazer? Se alguém disser ‘você me ama?, então prova, casa comigo’, eu vou e caso!” (risos). As pessoas estão com medo, porque não estão acostumadas com esse tipo de responsabilidade e possibilidade no horizonte. Regularizar é um susto. Eu acho que eu sempre quis casar (ri). Mas agora, quando eu casar, é pra valer! (gargalha) Já morei junto, mas não fui casada no sentido de ter tudo isso.

iG: E agora você quer?
Marina Lima:
Ah, agora, quando tiver alguém, vou falar assim (bate a mão na mesa repetidas vezes): agora tem, vamos ter plano de saúde, eu quero. Não sei com quem eu vou casar, mas seja como for, com mulher ou com homem, eu terei direitos iguais. Tudo mudou, acho maravilhoso. Eu estar no táxi, por exemplo, com um amigo mais jovem, mulher ou homem, e a pessoa começa a falar da vida dela, da relação (faz expressão constrangida, encena o gesto de “não estou nem aí” da outra pessoa). Não estão nem aí, nem se ligam no taxista, já pegaram isso diferente. Não é que eu fique envergonhada, não, mas se for um senhor paulista, fascista (ri)… Se for o Adoniran Barbosa, vai tomar um susto (risos)

iG: Já passou da hora do Adoniran aprender que existem gays no mundo, não?
Marina Lima:
É isso aí, vão ter que se acostumar, vão ter que se adaptar, não há jeito. Por isso tem esses malucos, skinheads. Tem um presidente negro nos Estados Unidos, uma presidenta mulher no Brasil, um operário antigamente no Brasil, os gays com direito a herança… Quem não se adaptar, que saia da frente. Quem não aguenta, porque é louco, reprimido, maluco, sai por aí matando. Não aguenta, é como se você esfregasse na cara dele: o mundo é assim, olha pros seus fantasmas, olha pra dentro. Tem que aguentar, as pessoas gays, bissexuais, negros. Não aguentaram tantas coisas durante anos? O mundo vai e volta, agora é outro momento, mudou. É o contrário (ri).

Ouça abaixo “Não Me Venha Mais com o Amor”

 

SourcedFrom Sourced from: Música – Cultura – Último Segundo – iG


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